Agro em ciclos econômicos na linha do tempo no Brasil

 Nossas commodities ao longo da história.

É fato que precisamos nos situar no contexto da economia global. Estamos em uma retomada desse processo no pós-pandemia Covid-19. A indústria de transformação mundial e o setor de serviços foram severamente afetados. O Brasil tem pontos fortes (agronegócios) que precisam ser explorados nesse momento infeliz da história da humanidade. Entretanto, precisamos, primeiramente conhecer o potencial que temos em mãos, estabelecer políticas públicas que contemplem projetos de Estado bem alicerçado em premissas já consagradas.

Vou dividir em dois blocos esse texto Agro em ciclos econômicos na linha do tempo no Brasil, sem um juízo de valores quanto ao tempo de viabilização econômica dessas commodities, mas observando o quanto perdemos por não adicionar tecnologia às matérias-primas, abundantes em nossas mãos. Aplicar em ciências faz toda a diferença nesse processo evolutivo.

Commodities – produtos de origem agropecuária ou de extração mineral, em estado bruto ou pequeno grau de industrialização, produzidos em larga escala e destinados à exportação

Commodities agropecuárias – divididas em grãos (soja, milho e trigo), proteínas (carnes, leite, e seus derivados) e softs (açúcar, cacau, café, suco de laranja e algodão).

O Brasil é campeão em exportação de soja, tem excelente participação no petróleo, minério de ferro, celulosemilhocafé e carnes bovina e de frango. Nossos parceiros comerciais mais expressivos são China, Estados Unidos, Países Baixos, Argentina, Japão, Chile, México, Alemanha, Espanha e Coréia do Sul.

Em 2020 as exportações brasileiras atingiram US$ 209,926 bilhões e as importações US$ 158,926 bilhões. Com esses números o Brasil é a 13ª maior economia global, mas ocupa a 25ª posição entre os exportadores mundiais de bens.

O Brasil vem perdendo relevância quando se avalia a produção industrial mundial, de acordo com dados da CNI. Em 1994 o Brasil contribuiu com 2,69% do valor adicionado da indústria de transformação mundial, essa participação caiu para 1,19% em 2019.

Pau Brasil

O ciclo do pau brasil ocorreu durante a fase pré-colonial (1500 a 1530), sendo o primeiro produto a ser explorado pelos portugueses. Nativa da Mata Atlântica era usada pelos índios para tingimento de tecidos. Encontrada nas regiões costeiras do Brasil, desde o início do século XVI alcançava excelentes preços no mercado europeu. Sua exploração demasiada (usando mão de obra escrava indígena), provocou o rareamento da espécie, encarecendo o produto, dessa forma desestimulando sua procura. Entretanto, sua exploração permaneceu até o século seguinte, quando perdeu sua importância no mercado consumidor (devido ao preço e transporte).

Cana de açúcar

Foi na Nova Guiné o primeiro contato com uma planta que seria associada intimamente com a essência da doçura, a cana-de-açúcar. De lá foi levada para as Índias, à região do Golfo de Bengala, de onde se tem os mais antigos registros sobre sua existência.

Esse chamado ciclo da cana de açúcar foi caracterizado quando essa comodity era o principal produto de exportação brasileira, com a criação da empresa açucareira brasileira, no decorrer dos séculos XVI a XVIII, período que foi uma das maiores atividades econômicas agrícolas do mundo ocidental.

Em 1532, as primeiras mudas de cana de açúcar foram trazidas da Ilha da Madeira, na expedição de Martim Afonso de Souza, iniciando sua cultura na Capitania de São Vicente, hoje Estado de São Paulo. Mas foi efetivamente no Nordeste do Brasil que os engenhos de açúcar se multiplicaram. O cultivo foi realizado na área da zona da Mata, faixa litorânea que se estendia do Rio Grande do Norte ao Recôncavo Baiano. O plantio, colheita e transformação da cana aos grãos de açúcar era empregada a mão de obra escravizada negra e indígena, além de trabalhadores livres. Com o crescimento da produção o Nordeste tornou-se o centro dinâmico da vida social, política e econômica, em especial os Estados de Pernambuco e Bahia.

A produção açucareira alcançou o apogeu no Brasil durante as três primeiras décadas do século XVII. A principal causa do fim desse ciclo produtivo foi a concorrência dos engenhos implantados nas Antilhas holandesas e inglesas. Portugal ao passar seus domínios para a Espanha, e essa estar em guerra com os Países Baixos (povo que detinha o comércio do açúcar), a colônia Brasil, como represália foi invadida (Pernambuco), onde concentrava grande produção do açúcar que Portugal comercializava com os holandeses. Não interessava à Espanha continuar abastecendo comercialmente os inimigos em guerra.

Em 1640, quando livre da Espanha, Portugal se concentrou em recuperar os territórios invadidos pelos holandeses, o que ocorreria totalmente em 1654. Nessa fase o Brasil já não era mais importante para o mercado açucareiro mundial – a produção das Antilhas já havia superado a brasileira. No entanto, os produtores do Brasil retomaram seu trabalho no campo, no pós invasão holandesa abrindo novos mercados de consumo.

Comércio da cana de açúcar: considera-se que no período do Brasil colônia (1500-1822) a renda obtida pelo comércio da cana de açúcar tenha atingido quase duas vezes à do ouro e quase cinco vezes à de todos os outros produtos agrícolas juntos (café, algodão, madeiras e outros), perfazendo um total aproximado de 300.000.000 de libras esterlinas.

Revolução industrial, evolução exponencial na produção do açúcar no Brasil.

Um fato histórico (eclosão da I Guerra Mundial, 1914) provocou um aumento do preço do açúcar no mercado mundial e incentivou a construção de novas usinas no Brasil, notadamente em São Paulo. Em 1920, Mario Dedini, imigrante italiano com experiência em usinas de açúcar, fundou em Piracicaba a primeira fábrica de equipamentos para a produção de açúcar no Brasil, após trabalhar na Usina Amália, de propriedade de Francisco Matarazzo.

A produção do Nordeste somada à de Campos no norte fluminense e a rápida expansão das usinas paulistas acenavam para um risco de superprodução – surge então o IAA, Instituto do Açúcar e do Álcool, 1933, governo Vargas. (6)

Por ocasião da II Guerra Mundial, dado a ação dos submarinos alemães no oceano Atlântico, vislumbrou-se risco para o abastecimento dos estados do sul, então as usinas solicitaram aumento de produção, o que foi aceito. No início da década de 50 a produção paulista multiplicou por seis sua produção ultrapassando a hegemonia produtiva do Nordeste de mais de quatrocentos anos.

No final dos anos 1970 surgem novos obstáculos ao mercado açucareiro – as indústrias químicas e farmacêuticas desenvolvem adoçantes sintéticos para concorrer com o açúcar tradicional, entretanto as usinas do Brasil se beneficiam por terem o álcool como salvaguarda.

Apesar das dificuldades globais da rápida mudança de paradigmas a que está submetida, a indústria açucareira brasileira continua em ascensão, na liderança mundial na produção do comodities. No início dos anos 2000 eram 300.000.000 de toneladas de canas moídas anualmente em pouco mais de 300 unidades produtoras, 17 milhões de toneladas de açúcar e 13 bilhões de litros de álcool produzidos.

Verdadeira reafirmação histórica de um setor que se mantém ativo, enfrentando os mais diversos desafios nesses mais de cinco séculos de atividade, destinado a ser a fonte desse produto que mesmo sendo farto e barato nos dias atuais, não perde a nobreza e o fascínio que desde tempos remotos exerce sobre a humanidade.

Uma das principais culturas do mundo a cana de açúcar é cultivada em mais de 100 países, 80% da produção está concentrada em 10 países. Brasil e Índia, respondem em conjunto por pouco mais da metade da cana produzida no mundo.

O Brasil apresenta dois períodos distintos para a produção da cana de açúcar: setembro a março no Norte-Nordeste, e de abril a novembro no Centro-Sul. Merece destaque o Estado de São Paulo que produz 60% de toda a cana, açúcar e etanol do país.

A produção de cana de açúcar em solo brasileiro vem ampliando, de 100 milhões de tonelada em 1975, para 220 milhões na safra 1986/87, se aproximando de 520 milhões de toneladas em 2003. Na safra 2019/20 foi processado um volume de 590.36 milhões de toneladas de cana de açúcar, que nos garantiu o status de maior produtor mundial dessa comodity.

Borracha

Contexto histórico

Em 1495 Cristóvão Colombo anunciava um “achado” na Amazônia usado pelos nativos da região (mais tarde chamado borracha). Em 1743 o naturalista francês Condamine descreveu o processo de extração de fabricação de goma de látex, em suas viagens à Amazonia, o que despertou interesses comerciais. Em 1763 químicos franceses descobrem como dissolver borracha com terebentina e éter. Em 1770, Priestley cria a borracha para apagar grafite. Em 1803, em Paris, foi fundado a primeira fábrica com produtos de borracha. Em 1823 o inglês Hancock cria o elástico. Em 1839 Goodyear desenvolve o processo de Vulcanização, tornando o látex um material viável para utilização industrial. Em 1877 mais de 70 mil sementes de seringueira são contrabandeadas do Pará para a Inglaterra (o primeiro grande escandaloso caso de biopirataria da Floresta Amazônica). Em 1910 tem início a concorrência da Hevea brasiliensis plantada nas colônias inglesas na Ásia, utilizando as sementes contrabandeadas em 1887, cujo látex produzido com custos muito inferiores aos da mata nativa no Brasil. Em nossas matas as árvores estavam dispersas na mata, enquanto o “reflorestamento da seringueira” na Ásia foram desenvolvidos adensadamente. O salário dos trabalhadores brasileiros era muito superior aos asiáticos – o custo (extração + salário + transporte) até o mercado consumidor muito abaixo do látex da Amazônia.

O ciclo econômico da borracha corresponde ao período da história em que a extração e comercialização do látex extraído da árvore Hevea brasiliensis foram explorados da floresta amazônica entre os anos 1879-1912 (primeiro ciclo) e 1942-1945 (segundo ciclo). Centenas de milhares de trabalhadores, em especial do nordeste brasileiro, migraram para a região, quando foram criadas vilas e povoados ribeirinhos, mais tarde transformadas em cidades com infraestruturas, e com traços culturais marcados até os dias atuais.

Na “Belle Époque Amazônica”, (1890 a 1920) as cidades de Manaus, Belém e Porto Velho tornaram-se as capitais mais desenvolvidas do Brasil, com eletricidade, sistema de água encanada e esgotos, museus e cinemas, construídas sob influência e nos moldes europeus.  Nesse período, cerca de 40% de toda exportação brasileira era proveniente da borracha da Amazonia, pagas em libras esterlinas.

De 1879 a 1912 a borracha vive o seu auge, da Amazonia foram exportadas mais de 30 mil toneladas do produto. Em 1910 o Brasil torna-se o maior produtor e exportador mundial da borracha chegando a exportar aproximadamente 40 mil toneladas do produto.

Em 1903, por meio do Tratado de Petrópolis junto à Bolívia, o Brasil anexa o Estado do Acre, região rica de Hevea brasiliensis onde brasileiros exploravam a rica seiva, motivo de confronto com o país fronteiriço.

No ano de 1910, surgiram as primeiras cargas do látex “pirateado” das colônias inglesas na Ásia no mercado consumidor mundial.

No contexto da 2ª Guerra Mundial os japoneses invadiram a Malásia em 1942, tomando o controle dos seringais, os EUA repassaram quantia vultuosa ao Brasil em troca de artigos necessários à sua defesa, entre eles a borracha. Aí nascem os soldados da borracha na Amazônia, o segundo ciclo da borracha.

Em 1944, a produção da borracha ainda atinge um pico, de 21.192 toneladas do produto.

O surgimento da borracha sintética produzida após a Segunda Guerra destrói as pretensões comerciais da borracha amazônica. Natural – polímero de biossíntese natural conhecido pela sua excelente resistência à tração, tem uma taxa de vulcanização mais rápida, que a faz matéria-prima importante para indústria (pneus, luvas, tapetes de borracha, vedações, componentes elétricos, mangueiras e tubos, isoladores de vibração, entre outros). Ainda detém 30-40% de participação no mercado mundial de borracha. Sintética – suas matérias-primas são obtidas principalmente dos subprodutos da produção de petróleo bruto, utilizando-se técnicas de polimerização em solução ou emulsão para síntese do produto. Existem mais de 20 classes diferentes de borrachas sintéticas com várias propriedades químicas e físicas.

Os países asiáticos dominam o mercado na produção e comercialização da borracha natural. Na atualidade São Paulo é o maior produtor brasileiro de borracha natural (58%), com extração ainda em árvores no Pará e Acre.

Café

Café em contexto

Na atual Etiópia era usado como estimulante para rebanhos de cabras realizarem longas viagens. Nos monastérios islâmicos eram cultivados e suas infusões eram servidas aos monges. Do Império Otomano chegou aos excêntricos do ocidente com a fama de “vinho da Arábia”. Até o século XVIII os árabes eram os únicos que dominavam o cultivo da planta, a produção da bebida e a venda do grão, que era comercializado já torrado, para não germinares e manter o monopólio nas mãos do oriente. Por volta de 1.700 mercantes holandeses presenteiam o rei Luiz IV da França com uma muda de café, plantada nos jardins de Versailhes. Em 1727 o sargento-mor Francisco Palheta introduziu as primeiras mudas de café no Pará.

Por volta de 1760 pequenas roças já eram cultivadas no Rio de Janeiro. Na região do Vale do Paraíba, com terras ideais para o plantio, a exploração ocorreu em grandes propriedades com o suporte de mão de obra escrava. Na década de 1830-1840, a exportação do café já representava mais de 40% das exportações totais do Império, suplantando, inclusive, a do açúcar. A cultura foi caminhando do Norte para o Sul do Brasil, quando em Campinas e Ribeirão Preto, identificaram a “terra roxa”, solo propício, nas fazendas da região. Após a abolição da escravatura o governo brasileiro incentivou a vinda de imigrantes europeus com a finalidade de suprir a mão de obra necessária às fazendas de café, que na época já se concentravam no interior paulista. A expansão da cultura alcançou a exportação do produto, contando com a mão de obra livre italiana, o início da mecanização, o investimento no comércio e na indústria de bens de consumo.

Começou a ser cultivado em larga escala no Brasil no começo do século XIX, devido ao aumento da demanda mundial, assumindo em poucos anos a posição de principal produto na pauta de exportações e principal mantenedor do Produto Interno Bruto nacional.

A nova dinâmica da economia do café trouxe investimentos em infraestrutura (estradas, ferrovias, rodovias, portos) e modernização dos centros urbanos (comércio, bancos, iluminação, telégrafos, novos traçados urbanos, bondes elétricos).

No final do século XIX o Brasil vivia a euforia do café, nada menos que 70% da produção mundial estavam concentrados em suas terras. Nos anos 90 do século XIX o preço do café cai. O Império cede para um novo sistema de governo. Adentramos à República. Até pelo menos a década de 30 do século 20 o Brasil dependia predominantemente da exportação de produtos agrícolas para a manutenção da renda nacional.

O Brasil é o maior produtor de café, na atualidade, seguido do Vietnã (maior produtor de café robusta), e Colômbia (exportador de cafés finos). Na safra de 2016/2017 o Brasil produziu 38.5 milhões de sacas de café arábica e 12 milhões de sacas de robusta. Os Estados brasileiros produtores Minas Gerais, São Paulo, Paraná, Espírito Santo, Bahia e Rondônia (2º maior produtor de robusta no Brasil).

Os maiores importadores de café são Alemanha, EUA, Bélgica, Itália, Japão, Espanha e França.

Na pauta de exportações, em 2019, o café ocupou a 10ª posição entre os produtos mais comercializados pelo Brasil, cabendo ao Estado de Minas Gerais a primazia dessa comercialização.

Concluindo parcialmente: a participação do agro na pauta de exportações da produção nacional com a competente geração de riqueza da nação – PIB, inicia com o pau Brasil, construindo bases sólidas para o desenvolvimento da nação. Como demonstrado, em alguns momentos a produção de uma só commodities garantia mais de metade do percentual de exportações brasileiras. A queda de produção, biopirataria ou desenvolvimento de outro produto similar pode prejudicar em muito a economia do país que aposta em apenas um produto, o que ocorreu com a borracha para a região amazônica.

30 de outubro de 2021

Edson Silva

Eduardo Lysias de Oliveira e Silva

Referencial bibliográfico

http://www.portaldaindustria.com.br/industria-de-a-z/exportacao-e-comercio-exterior/

https://www.todamateria.com.br/ciclo-da-cana-de-acucar/

https://www.agencia.cnptia.embrapa.br/Repositorio/historia_da_cana_000fhc62u4b02wyiv80efhb2attuk4ec.pdf

https://www.novacana.com/cana/producao-cana-de-acucar-brasil-e-mundo

https://www.todamateria.com.br/ciclo-da-borracha/

http://www.biologico.sp.gov.br/uploads/docs/pag/v9_1/dagostini3.pdf

https://www.todamateria.com.br/ciclo-do-cafe/

http://www.abphe.org.br/arquivos/thiago-caliari_newton-paulo-bueno.pdf

https://baristawave.com/historia-do-cafe-no-brasil/

https://edisciplinas.usp.br/pluginfile.php/1091932/mod_resource/content/1/CAF%C3%89_AULA_RGR.pdf

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