O jogo da democracia nas peças de xadrez
A analogia nos permite refletir sobre fatos do nosso cotidiano. Nesse ensaio o nosso momento político nas peças de um tabuleiro de xadrez.
Analogia – tipo de comparação de forma que uma semelhança parcial sugere uma semelhança oculta. É um recurso didático para explicar comparações que podem ser mais abstratas, tipo, explica-se o desconhecido pelo conhecido, o estranho pelo que é familiar.
Xadrez
Tem mais de cinco séculos de história, surgiu no sudoeste da Europa durante o Renascimento Cultural. Hoje um dos jogos mais populares do mundo. Sua prática desenvolve diversas habilidades (memória, concentração, planejamento, tomada de decisões). Excelente suporte pedagógico, se relaciona com a matemática, artes, história e geografia. Desenvolve o espírito ético de seus praticantes, não sendo possível burlar as regras do jogo.
No decorrer de minhas pesquisas sobre o xadrez busquei brasileiros que marcaram seus nomes na história do esporte. Curiosamente tive o prazer de conviver na prática do basquetebol na Sociedade Thalia (idos de 1971/72), em Curitiba, com o jovem Jayme Sunye Neto, elevado anos após à categoria de Grande Mestre Internacional (1986), representante do Brasil em nove Olimpíadas de Xadrez (ouro em Manilla, 1992).
Jogo de xadrez
Um jogo por turnos para 2 jogadores que se desenvolve sobre um tabuleiro de 8 por 8 quadrados (casas). No total são 64 casas que se alternam entre claras e escuras. Cada lado se distingue por cor (peças brancas e pretas) e tem 16 peças assim distribuídas: 1 Rei, 1 Rainha, 2 Bispos, 2 Cavalos, 2 Torres, 8 Peões.
O objetivo do jogo é proteger seu próprio Rei, e atacar o Rei do adversário até que ele não tenha como escapar – xeque-mate
Movimentos:
o Rei, pode se mover em todas as direções (horizontal, vertical e diagonal) somente uma casa de uma vez;
a Rainha, pode se mover ao longo da horizontal, vertical e diagonais, mas não pode pular outras peças;
os Bispos, pode se mover ao longo da diagonal, porém não pode pular outras peças;
as Torres, pode se mover pela vertical ou horizontal, mas não pode pular outras peças;
os Cavalos, é a única peça que pode pular as outras. Seu movimento em forma de L, duas casas em sentido horizontal e mais uma na vertical ou vice-versa;
Os Peões, se move apenas uma casa para a frente e somente captura outras peças na diagonal. Opcionalmente, cada Peão pode avançar duas casa no primeiro movimento do jogo.
*Promoção do Peão, se um peão chegar até a última fila, o jogador poderá troca-lo por qualquer peça que desejar, exceto pelo rei ou por outro peão.
*Rei afogado, situação em que o Rei se encontra encurralado em uma posição da qual não consegue sair, pois nenhum lance é legal.
Lances irregulares (ilegais)
– O mais grave é colocar o próprio Rei em xeque; – mover em linha reta com o Bispo ou em diagonal com o Cavalo; fazer qualquer movimento, com qualquer de suas peças, deixando o Rei em xeque;
– Em eventual lance irregular, a correção do movimento deve ser feita com a mesma peça que foi movida na execução do lance irregular (caso o movimento do Cavalo tenha colocado o Rei em xeque, esse deve retornar à posição anterior e executar outro lance com a mesmo Cavalo, de modo que seu Rei esteja protegido).
Sistema Tripartite de poderes
Poder Executivo – tem por função governar o povo e administrar os interesses públicos, de acordo com as leis previstas na Constituição Federal. Em nosso regime presidencialista, o líder do Poder Executivo é o Presidente da República, que tem o papel de Chefe de Estado e de Governo – eleito democraticamente.
Poder Legislativo – responsável por questões político-administrativas e financeiro-orçamentárias. Tem como função legislar (elaborar, revisar e aprovar leis), também acompanhar a administração do governo, o uso do dinheiro público e as atividades do executivo. Representado pela Senado Federal – Câmara Alta, e Câmara dos Deputados – Câmara Baixa. Eleitos democraticamente.
Poder Judiciário – é o poder cuja função é administrar a lei e a justiça perante a sociedade. Tem como órgão máximo o Supremo Tribunal Federal – STF, que tem por função – a guarda da Constituição Federal, ou seja, efetivar todos os direitos descritos na CF, além também de julgar ações penais contra autoridades com foro privilegiado (caso de parlamentares). STJ tem a responsabilidade de padronizar a aplicação e interpretação da Lei no Brasil e, CNJ, responsável pelo controle da atuação administrativa e financeira dos Tribunais e planejamento estratégico do judiciário e pela fiscalização da conduta dos magistrados completam a estrutura superior do Poder Judiciário. Indicados e sabatinados pelo Poder Executivo e Legislativo, respectivamente.
Uma analogia proponho para a minha e a sua reflexão, …
O Rei (Constituição Federal) precisa ser respeitado e protegido, com o risco da própria vida, pela Rainha (Chefe do Executivo), também pelos Bispos (Câmara Alta), Torres (Câmara Baixa) e Cavalos (Tribunais Superiores), com acompanhamento e apoio dos Peões (Povo), sob pena do xeque-mate, e consequente perda do jogo de xadrez (Democracia). A Democracia, a liberdade, a família brasileira, são combustíveis (valores) que mantém acesa a chama dessa nação Brasil.
– A Constituição Federal precisa ser respeitada e protegida pelo Chefe do Executivo, como também pelo Senado da República e Câmara Federal, assim também os Tribunais Superiores, com acompanhamento e apoio do Povo sob pena de perdermos a Democracia –
Sobre o Rei (Constituição Federal), discurso do Presidente da Assembleia Constituinte Ulysses Guimaraes, 5 de outubro de 1988 (parte):
“A Constituição não é perfeita. Ela própria o confessa ao admitir a reforma. Quanto a Ela, discordar, sim. Divergir, sim. Descumprir, jamais. Afrontá-la, nunca”.
“Traidor da Constituição é traidor da Pátria. Conhecemos o caminho maldito. Rasgar a Constituição, trancar as portas do Parlamento, garrotear a liberdade, mandar os patriotas para a cadeia, o exílio e o cemitério”.
Frisando objetivamente: os poderes são harmônicos entre si e tem por missão constitucional cumprir e fazer cumprir as ordenanças da Carta Magna em respeito e dedicação ao Povo, razão da existência desses poderes.
Cada uma dessas peças do xadrez tem seus movimentos permitidos, assim também os membros integrantes de cada poder. A missão que cada um jurou defender é revestida de espírito ético, não sendo permitido burlar as regras do jogo democrático – isso é obrigação, não existe mérito nesse ato.
Ora, se existem regras claras, e promulgação de leis não parece caracterizar nossa maior deficiência, onde reside o cerne da questão que estabelece o amálgama dessa hoje fragilizada Democracia? O jogo de xadrez, como mencionado, é sucesso a mais de 500 anos, sem mudar suas regras. Nossa República completou 132 anos e foram promulgadas 7 constituições desde a nossa independência de Portugal. A sugestão do aprendizado de xadrez na formação educacional de nosso povo poderia ajudar a moldar um caráter brasileiro de maior unidade e coesão na direção de uma ordem e progresso, respeito e amor a valores cristãos da família, e sentido de pátria.
Por inúmeras vezes temos visto a figura do “Rei afogado”, situação em que o “Rei” se encontra encurralado em uma posição da qual não consegue sair, pois nenhum lance é legal. As demais peças precisam se entender em suas estratégias para proteger o Rei, regra principal do Jogo.
Então, … o que realmente há de tão irregular nesse tabuleiro político do Brasil? Parece que algumas peças transgridem, realizam movimentos que não lhes são próprios, desestabilizam as estruturas do “Rei”, comprometendo a democracia instaurada a duras penas. A partir de 1989 com a promulgação da República foi abandonada a figura do Poder Moderador, ainda assim “ouvimos um flertar” com esse poder, abominado que foi a partir da Constituição Republicana de 1891.
Para que a Democracia (jogo) perdure, o Rei (Constituição) precisa estar de pé, e protegido pelas demais peças detentoras do poder (Rainha, Bispos, Torres, Cavalos) cumprindo sua missão previsto nas regras, para que os Peões (Povo) sintam-se seguros no papel de produzir para o fortalecimento das bases do desenvolvimento nacional.
Esse “Jogo” em tudo depende dos “Peões” na escolha do Parlamento (Bispos e Torres) e Chefe de Governo (Rainha) em outubro de 2022. “Bispos” comprometidas com alinhamento dos “Peões” nas ruas podem/devem chamar “Cavalos” a seguir os movimentos que as regras lhes permitem. Aos “Bispos” cabe a responsabilidade constitucional.
Por Edson Silva
Eduardo Lysias de Oliveira e Silva
Consulta bibliográfica
https://www.ludijogos.com/multiplayer/xadrez/regras/
https://www.soxadrez.com.br/conteudos/fases_partida/
https://descomplica.com.br/artigo/analogia-o-que-e-e-x-exemplos/6Hw/